ATA DA TRIGÉSIMA SEGUNDA SESSÃO SOLENE DA TERCEIRA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA PRIMEIRA LEGISLATURA, EM 05.12.1995.

 


Aos cinco dias do mês de dezembro do ano de mil novecentos e noventa e cinco reuniu-se, na Sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre. Às dezessete horas e vinte minutos, constatada a existência de "quorum", o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos da presente Sessão, destinada à entrega do Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre ao Senhor José Conrado de Souza, de acordo com o Requerimento nº 07/95 (Processo nº 0288/95), de autoria do Vereador Isaac Ainhorn e aprovado pelo Plenário. Compuseram a Mesa: Vereador Airto Ferronato, Presidente desta Casa, Senhor José Conrado de Souza, Homenageado e sua esposa, Senhora Ana Catarina Kurtz de Souza, Senhora Lenora Ulrich, Diretora do Departamento de Esgotos Pluviais, representando, neste Ato, o Senhor Prefeito Municipal, Coronel Irani Siqueira, representante do Comando Militar do Sul, Tenente Luis Carlos Duarte Garcia, representante do Comando da 3ª Região Militar e Tenente-Coronel Marco Milost, Comandante do 3º Batalhão de Polícia do Exército. E como extensão da Mesa, o Senhor Presente registrou as presenças das seguintes pessoas: Lena Kurtz, filha, Manoela e Rafaela, netas do Homenageado. Após, o Senhor Presidente fez a leitura do "curriculum vitae" do Homenageado, concedendo, a seguir, a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. O Vereador Isaac Ainhorn, em nome das Bancadas do PDT, PT, PMDB, PTB, PPS, PSDB e do Vereador Luiz Negrinho, Independente, disse que a presente homenagem é extensiva àqueles homens que tombaram no campo da batalha e aos sobreviventes, referindo-se à Força Expedicionária Brasileira que atuou na Europa durante a Segunda Guerra Mundial. O Vereador Reginaldo Pujol, em nome da Bancada do PFL, salientou as qualidades do Homenageado, um homem vindo do interior, sendo um vitorioso nas atividades que exerceu. Desejou, ainda, que episódios como a Segunda Guerra Mundial, nunca mais se repitam. O Vereador Pedro Américo Leal, em nome da Bancada do PPR, destacou a liderança do Homenageado à frente da Força Expedicionária Brasileira - FEB, onde esse viveu momentos gloriosos. Em continuidade, o Senhor Presidente concedeu a palavra ao Coronel Irani Siqueira, que prestou a sua homenagem a todos os combatentes da FEB, através da declamação do poema "Lembrai-vos da Guerra", de autoria do Cadete Afonso Cláudio de Figueiredo. A seguir, o Senhor Presidente convidou o Vereador Isaac Ainhorn e a Senhora Lenora Ulrich, para que procedessem, respectivamente, à entrega de Diploma e Medalha, alusivos do Título ora outorgado, concedendo a palavra a Sua Senhoria, que agradeceu a presente Homenagem, fazendo relato histórico das atividades que desenvolveu até esta data. Após, o Senhor Presidente convidou o Homenageado para participar da próxima reunião do Conselho de Cidadãos de Porto Alegre, do qual passa a fazer parte, discorrendo sobre a importância do mesmo. Às dezoito horas e cinco minutos, nada mais havendo a tratar, o Senhor Presidente declarou encerrados os trabalhos, agradecendo a presença de todos e convidando os Senhores Vereadores para a Sessão Solene das dezenove horas. Os trabalhos foram presididos pelo Vereador Airto Ferronato e secretariados pelo Vereador Isaac Ainhorn, Secretário "ad hoc". Do que eu, Isaac Ainhorn, Secretário "ad hoc", determinei fosse lavrada a presente Ata que, após distribuída em avulsos e aprovada, será assinada pelos Senhores 1º Secretário e Presidente.

 

 


(Obs.: A Ata digitada nos Anais é cópia fiel do documento original.)

 

 

 


O SR. PRESIDENTE (Airto Ferronato): Damos por abertos os trabalhos da presente Sessão Solene destinada à entrega do Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre ao Sr. José Conrado de Souza, por proposição do Ver. Isaac Ainhorn, com a aprovação unânime dos Srs. Vereadores.

Compõem a Mesa: Exmo. Sr. José Conrado, nosso homenageado; Sra. Ana Catarina Kurtz de Souza; Dra. Leonora Ulrich, Diretora do DEP, representando neste ato o Sr. Prefeito Municipal de Porto Alegre; Coronel Irani Siqueira, representante do Comando Militar do Sul; Tenente Luis Carlos Duarte Garcia, representante do Comando da 3ª Região Militar; Tenente-Coronel Marco Milost, Comandante do 3º Batalhão de Polícia do Exército.

O Sr. José Conrado de Souza, natural de Santo Augusto, à época Distrito de Palmeira das Missões, participou da Segunda Guerra Mundial com bravura, tendo recebido, por sua atuação na FEB, medalhas da Campanha da Itália, do Mérito Militar do Grau Cavalheiro, Pacificador e Marechal Mascarenhas de Moraes. Empreendedor dinâmico, destacou-se na vida profissional, tendo galgado importantes cargos como a Chefia da Shell, da Castrol do Brasil, da Construtora Barbosa Mello S.A. e tantos outros.

Paralelamente à vida profissional, José Conrado de Souza sempre desempenhou intensos trabalhos junto às comunidades onde vivia. Assim, idealizou e fundou, em Belo Horizonte, o Centro Gaúcho de Minas Gerais, foi Governador do Distrito do Lions Clube Internacional, liderando centenas de campanhas em prol das pessoas carentes da Capital e foi fundador e eleito Presidente da Associação de Pracinhas Gaúchos, cargo que exerce até hoje.

Com a palavra, o Ver. Isaac Ainhorn em nome das Bancadas do PDT, PT, PMDB, PTB, PPS, PSDB e do Ver Luiz Negrinho.

 

O SR. ISAAC AINHORN: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa.) É uma honra muito grande, nesta oportunidade, prestar uma homenagem especial da Cidade de Porto Alegre a uma figura que trabalhou e merece o reconhecimento da representação política da nossa Cidade, conquistando, por seu trabalho, por sua atuação, por sua dedicação, o honroso título outorgado pela Câmara Municipal de Porto Alegre.

Há uma frase, no início da Exposição de Motivos do Projeto que propôs o Título de Cidadão de Porto Alegre a José Conrado de Souza, que nos lembra as palavras do escritor Raul Pompéia na célebre obra "O Ateneu", quando, no início da obra, leva o filho até a porta de uma escola, no Rio de Janeiro, e diz: "Vá, meu filho, vá enfrentar a vida." Da mesma forma, quando José Conrado saiu da missioneira Santo Augusto, seu pai, montado num cavalo, disse para Ângela, irmã de Conrado: "Leva esse guri para estudar na Capital. Aqui ele não terá futuro." E assim começa a longa jornada de José Conrado de Souza até os nossos dias.

Há um fato que nos motivou no curso da proposição da outorga do Título de Cidadão de Porto Alegre a José Conrado de Souza, sobretudo no ano de 1945. O ano de 1945, para quem tem memória, para quem reflete sobre a nossa história, representa um marco de extrema importância na história mundial. Foi durante aquele ano que o mundo inteiro comemorou a vitória das forças aliadas na Segunda Guerra Mundial. José Conrado de Souza tem uma história ligada àquela epopéia.

Na iniciativa de homenagear José Conrado, com o apoio do conjunto dos Vereadores, homenageamos não só a trajetória desse homem, que se destaca como uma pessoa enraizada na sua comunidade, mas também prestamos uma homenagem à cidadania, àqueles que, nos idos de 40, saíram da nossa Pátria para defender a democracia e a liberdade, que estavam ameaçadas pela barbárie nazista.

O nosso exército comportou-se com desenvoltura, com heroísmo e com coragem nos campos de batalha da Europa. Isso nos faz, cinqüenta anos após, prestar uma homenagem não só àqueles homens que tombaram no campo de batalha, mas também aos sobreviventes, o que fazemos numa homenagem especial, outorgando o Título de Cidadão de Porto Alegre ao Presidente da Associação da Força Expedicionária Brasileira. É essa a razão que nos motivou à proposição deste título.

No ano passado, tivemos a oportunidade de designar o largo fronteiro ao Monumento aos Expedicionários de Largo Yedo. Homenageamos aquele guerreiro, aquele comandante, pois achávamos que era a maneira mais correta de homenagear e manter viva a chama daqueles homens que foram lutar pela democracia e liberdade. Hoje estamos aqui virando mais uma página na nossa história, e esses homens, que aqui estão, alguns têm tido, na contemporaneidade, nos nossos dias, o papel extremamente importante, porque foram testemunhas dos massacres do nazi-fascismo. Infelizmente, nós assistimos perplexos, nos nossos dias, a algumas figuras na França, na Alemanha, e até na nossa Pátria, querendo revitalizar e fazer com que ressurjam essas forças já suplantadas, derrotadas e esmagadas na década de 40. José Conrado de Souza e os pracinhas da fé têm sido companheiros vigilantes, atuantes, de forma permanente, denunciando esses grupos e esses setores que querem - pasmem os senhores - negar o próprio holocausto e a morte de seis milhões de judeus na Segunda Guerra Mundial, além dos civis mortos nos campos de extermínio, nos campos nazistas.

Os pracinhas da FEB, homens já com seus cabelos grisalhos, embranquecidos, têm tido uma postura de vigilância permanente, sendo testemunha e mantendo essa chama, escrevendo e prestando depoimentos da nossa história e de tudo aquilo que aconteceu, e disso nos orgulhamos. Tivemos também aqui, nesta Casa, no início deste ano, uma homenagem especial, aquela que consideramos um marco das vitórias brasileiras nos campos da Itália, que foi a Tomada de Monte Castelo. Essas nossas colocações, essas nossas posturas, essas nossas posições aqui, nesta Casa, têm sido uma marca permanente, porque acreditamos que o País é uma unidade. Na nossa visão, não existe a dicotomia entre civis militares; existem, isto sim, cidadãos brasileiros que querem preservar e consolidar as instituições da nossa sociedade, baseadas na liberdade da democracia.

Por essa razão, Conrado, poderia falar de vários outros aspectos da tua vida profissional e comunitária, da tua presença em inúmeras atividades do Lions Clube, chegando até a Governador de um de seus distritos importantes. Poderia falar de outros aspectos das tuas contribuições, mas me ative a esses, porque entendi que, neste momento, quando ainda no ano que comemoramos cinqüenta anos da vitória das forças aliadas na Segunda Guerra Mundial, nós achamos que esta homenagem é uma  homenagem para ti, outorgando-te o Título de Cidadão de Porto Alegre, mas extensiva a todos os teus companheiros que juntos estiveram na Europa, na Segunda Guerra Mundial. É a nossa homenagem carinhosa e especial desta Casa, que hoje vive um dia importante no dia em que te entrega e te outorga o Título de Cidadão de Porto Alegre. Muito obrigado.

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Nós citamos, também, a presença da Sra. Lena Kurtz, filha do nosso homenageado, e da Manoela e da Rafaela, suas netas.

Além dos Vereadores que fazem uso da palavra, nós registramos a presença do Ver. Clóvis Ilgenfritz.

Gostaríamos de informar que recebemos diversos telegramas, cumprimentando o nosso homenageado. 

O Ver. Reginaldo Pujol está com a palavra em nome da Bancada  do PFL.

 

O SR. REGINALDO PUJOL: Sr. Presidente, Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa.) Como os senhores tiveram oportunidade de constatar, o Ver. Isaac Ainhorn, proponente do título que hoje se concede ao nosso homenageado, já ocupou a tribuna e o fez em nome das várias bancadas da Casa.

Integrantes que somos do PFL, entendemos que não poderíamos estar ausentes desta homenagem a esse pracinha peregrino. Em verdade, o Ver. Isaac Ainhorn foi muito feliz quando associou as comemorações dos cinqüenta anos da conclusão dos episódios da Segunda Guerra Mundial com essa homenagem que faz a um dos mais legítimos representantes daquela plêiade de jovens que, integrando as Forças Expedicionárias Brasileiras, foram levar a contribuição do Brasil naquela luta titânica que a humanidade inteira travou com o afã mais do que declarado de ver superados alguns preconceitos e, sobretudo, algumas propostas que a humanidade democrática repelia. Por isso, seu Conrado, eu me sinto muito feliz em poder ter compartilhado uma série de compromissos e estar presente nesta tarde em que a Casa do Povo de Porto Alegre celebra e consagra a sua anterior decisão de, em lhe fazendo uma homenagem justa e legítima, homenagear aqueles que consigo pugnaram nos campos da Itália. Por coincidência, há menos de 24 horas, eu ainda passava pelo Pacífico, exatamente por áreas onde a outra hecatombe se registrou dessa malfadada guerra. Não me refiro aos campos de batalha da Europa, mas eu estive em Hiroshima há poucos dias, onde esses horrores se fizeram manifestar. Em todos os locais onde andei, no Japão, nos Estados Unidos da América, observo que há um desejo muito grande das pessoas responsáveis de que a humanidade se arme de disposições capazes de assegurar que aqueles horrores não se haverão de repetir e que aqueles que irão nos substituir daqui a alguns anos possam homenagear pessoas capazes, líderes comprovados, homens de indiscutível contribuição à vida comunitária por razões outras que não essa que com justiça homenageamos, mas que representa a passagem brasileira em meio a um conflito que todos desejam que não tivesse ocorrido.

Por isso, além de acentuar essa sua condição, confessadamente uma das causas volitivas da homenagem que o Ver. Isaac Ainhorn proporcionou à Casa, quero também acentuar as suas qualidades de homem vindo lá do Interior, lá de Santo Augusto, que era antes o Distrito de Palmeira, e que tem alguma coisa em comum com todos nós. Eu também, na minha meninice, estive muito longe daqui - na minha Quaraí, onde nasci - e sei bem que aquela expressão que o seu pai usou quando pediu à sua irmã que o trouxesse para o grande centro, no sentido de obter os conhecimentos e a cultura necessária, eu sei que isso se renovava com proficiência e repetição continuada, porque não existiam, naquele momento, lá nos longínquos 29 ou 30, como existiram mais tarde nos 40 ou 45, essas condições que impulsionaram grande parte dos nossos familiares a nos levar para a cidade grande, como ocorreu consigo e mais tarde comigo.

Ainda há pouco, falando com o Gutierrez, lembrava a minha vinda para Porto Alegre, ainda adolescente, para estudar no Colégio Estadual D. João Becker, oportunidade em que conheci o Prof. Gutierrez já prestando os seus serviços ao Instituto Porto Alegre, lá no Morro Milenar.

Dentro desse contexto, eu quero homenageá-lo, caro José Conrado de Souza, porque você é um vitorioso. Você saiu com aquelas dificuldades que a época apresentava e foi, progressivamente, superando tudo. Destemidamente, esteve na Europa, nos campos de batalha, e depois, nessa luta do dia-a-dia, nas várias empresas que participou: no Lions Clube, que dirigiu, na Associação Nacional de Combatentes, que ainda dirige. Em todo o lugar o senhor mostrou disposição para o bom combate, para a luta, para o sucesso, para a vitória, enfim, para a atitude meritória que é reconhecida pelos seus, agora munícipes, os seus conterrâneos da Cidade de Porto Alegre.

Ao homenageá-lo, quero que o senhor saiba que nós, os Vereadores de Porto Alegre, é que devemos lhe agradecer por nos ter permitido, com seu exemplo, com seu testemunho, que nós lhe integrássemos na galeria dos cidadãos porto-alegrenses, porque ela ficará, a partir de hoje, engrandecida com a sua presença marcante, decisiva, meritória e, sobretudo, de bom exemplo para a posteridade que surge. Que a sua esposa, que a sua filha, que as suas netas saibam que esse chefe de família, que esse pracinha peregrino é um exemplo que toda a Cidade de Porto Alegre aplaude. Muito obrigado. (Palmas.)

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, o Ver. Pedro Américo Leal, que fala em nome da sua Bancada, o PPR.

 

O SR. PEDRO AMÉRICO LEAL: Sr. Presidente, Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa.) Conrado, eu vejo com tristeza as tuas passagens sucessivas pela linha de parada; é como que uma despedida. Parece que o conjunto que tu comandas cada vez mirra mais, cada vez mais definha, cada vez mais se esvai. Os homens estão envelhecendo, estão passando. E tu, de boina azul, na frente tentando mostrar o garbo que mostrava há quarenta e tantos anos. Praticamente mobiliza todas as forças que pode para, com o seu peito arfante, chamar a atenção da tropa para aquele minguado contingente de homens que estão representando a Força Expedicionária Brasileira. Mas cada vez ele míngua mais, cada vez ele mais se definha. E vai-se colocando de uma maneira que se vai e que não representa mais aquilo que representava antes.

É praticamente impossível que se comece um discurso assim, mas é a realidade. A nossa Força Expedicionária Brasileira, que teve um momento decisivo na sua travessia aos Apeninos, que eu contemplei de longe quando eu vislumbrava o Monte Cassino, lá, ao longe, na Itália, eu via aquilo transitando, passando, eu via e aquilo me chamava a atenção. Aquilo era o Monte Cassino. O Solon está ali; ele comandou uma companhia-Pitaluga. A nossa querida Sra. Yeda Blaut, enfermeira que se deu na Força Expedicionária Brasileira e tantos outros que aqui estão. O Castelo Branco, então tenente, chegou no 19 RI com aquela medalha que eu tanto amava e que nunca pude ter. Tudo isso são eloqüências. A Força Expedicionária Brasileira começa a ficar no passado. Nós não temos mais recordações dela a não ser no passado. O passado que nos traz as mais eloqüentes recordações. Então, José Conrado de Souza, eu me lembro dos dezessete de Abetaia. Aqueles homens que ficaram no meio da estepe gelada contemplando aquilo tudo que se passava ali e, em círculo, se dispuseram a defender aquela resistência que eles achavam que era a última missão que eles tinham na vida. Eram soldados do Rio de Janeiro, de São Paulo, de Minas Gerais que resistiam e ficavam na defensiva e foram completamente congelados e só foram surpreendidos com um eloqüente monumento à história, quando o nosso Major Tadeu, com as unhas, procurava tirar o gelo das pegadas que eles tinham e que faziam ali naquele muro. Ora, isso tudo é a Força Expedicionária Brasileira.

Conrado, você representa tudo isso. Você ainda é o sonhador, você ainda é o camarada que vibra, que coloca aquela touca azul e que vai para a parada e que desfila, que pratica e que faz todo o possível para erguer mais alto o nome do Brasil. Você é esse homem. Continue sendo, continue vivendo o momento de vitória; esse momento vai se apagando pouco a pouco. Vai se apagando na memória de todos nós, vai ficando para trás, vai nos deixando, vai nos abandonando e nós vamos ficando como saudosistas, só vivendo aqueles momentos de saudades que tem a Força Expedicionária Brasileira para nós.

Você sabe perfeitamente; eu já falei muitas vezes sobre a Força Expedicionária Brasileira; não queria tocar no assunto mais uma vez para você, porque eu falo diferente de você, porque eu falo como soldado que sou, soldado que sente, soldado que vibra, soldado que tem a compenetração de que este momento é imorredor, que ficou para trás com toda a saudade de nosso coração e que nós depositamos em você.

O nosso abraço e a nossa confiança. O que dizer mais para você? Saudades? Eloqüência? Você sabe que é a Força Expedicionária Brasileira. Você vibrou, você viveu aqueles momentos incandescentes e ficou tudo no passado. Deixe lá. Que fique lá e que fique lá. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Vamos ceder espaço ao Cel. Irani Siqueira.

 

O SR. IRANI SIQUEIRA: Sr. Presidente Airto Ferronato, que por uma especial deferência permitiu que eu viesse à tribuna para também fazer uma homenagem ao Tenente Conrado e aos demais companheiros da Força Expedicionária Brasileira. Vejo aqui, assim como o Ver. Pedro Américo Leal, a ex-enfermeira e hoje Tenente Inácia, viúva do nosso general Yedo Blaut. Recordo-me de ter falado a ela, uma vez, que uma das minhas tias maternas foi governanta do então Major Yedo Blaut, logo que ele regressou da Itália.

Não quero concorrer com o Ver. Pedro Américo Leal, mas vou tentar declamar um poema de autoria do Cadete Afonso Cláudio de Figueiredo. Neste poema, ele finaliza homenageando a Infantaria, e, em homenageando o infante, eu homenageio a todos os combatentes, inclusive de Cavalaria, assim como foi o nosso General Daniel de Andrade, presente aqui, que foi um dos estimuladores do Museu da FEB, com a sua transferência para São Gabriel.

Pretendia estar aqui caracterizado como combatente, mas deixarei à imaginação das senhoras e dos senhores a criação da figura de um soldado perto de diversos túmulos daqueles nossos heróis. Antes do poema, gostaria de complementar a idéia do Ver. Pedro Américo Leal, dizendo que eles não ficam no passado: eles são almas do passado, projetando luz no futuro da nacionalidade.

(Lê.)

"Lembrai-vos da Guerra"  (Autor: Cad. Afonso Cláudio de Figueiredo)

 

Imensa formação de brancas cruzes,/ Desfile mortuário de fantasmas,/ Exótico mercado de miasmas/ Exposição de ossadas e de urzes.../ Calado e mudo queda-se o canhão;/ Apenas trevas cobrem a amplidão,/ Que outrora foi um campo de batalha.../ Calada e muda queda-se a metralha,/ É morta na garganta a voz do obus;/ O sabre traiçoeiro não reluz/ Dilacerando, ensangüentado a terra.../ A paz voltou, é terminada a guerra./ Os heróis já tombaram das alturas,/ Covardes, bravos, jazem olvidados;/ Seus feitos, tudo aos livros relegados;/ Nada mais resta, apenas sepulturas./ E eu quem sou? Perguntam eu quem sou?/ pois bem, eu lhes direi; sou um soldado/ Igual a qualquer outro que lutou,/ Que avançou, combateu, foi derrubado./ Cruzes iguais... Terrivelmente iguais.../ Exército que cresce mais e mais/ No festim diabólico da morte./ Aqui jaz o covarde. Ali o forte./ Aqui dorme um estranho. Ali estou eu.../ Mas ninguém sabe como ele morreu.../ Não se lembram do campo de batalha,/ Nunca ouviram o riso da metralha.../ Não sentiram tremer o corpo inteiro.../ Ao rugido terrível de um morteiro.../ Não viram perto os olhos do inimigo,/ Não sentiram o medo do perigo/ Que nos faz desejar a morte breve;/ Nunca sonharam. Nunca, nem de leve./ Mas.../ Nem todos esqueceram do soldado/ Que está longe, bem longe sepultado./ Mamãe, oh minha mãe, se tu soubesses/ Que tua imagem adornei com flores,/ Que tuas flores foram minhas preces,/ Preces colhidas no jardim das dores.../ Minha querida mãe, se te contasse/ O medo que senti sem teu carinho,/ Um medo horrível de morrer sozinho./ Medo mesmo que o medo me matasse.../ Mas deixei meu abrigo e avancei/ Julgando ver a morte a cada passo,/ Ouvindo o sibilar de um estilhaço,/ Parei... Pensei em ti... Continuei.../ Minha querida mãe, se te disseste/ Que quando derrubou-me uma granada/ Atirando-me à terra enlameada/ Foi por ti que chamei desesperado.../ Por instantes, deixei de ser soldado/ E novamente fui criança,/ Sentindo então, na morte a esperança/ De ainda adormecer no teu regaço./ Mamãe. Mamãe. Matou-me um estilhaço./ Minha querida noiva por que choras?/ Relembras certamente as boas horas/ Que passamos juntinhos. Só nós dois,/ Íamos casar. Lembras? E depois.../ E depois uma casa retirada,/ Cortinas nas janelas, enfeitada,/ Tu me esperando... eu vindo do quartel/ A nossa casa, um pequenino céu,/ Aberto para a vinda de um herdeiro./ Meu sonho, foi meu sonho derradeiro,/ O de beijar-te antes de morrer./ Mas ante o golpe frio da granada,/ Beijei apenas terra ensangüentada!/ Minha mãe, minha noiva, aqui se encerra/ Uma história de sangue, esta é a guerra,/ Não chorem. Tudo agora é terminado/ Rápido como coisa de soldado.../ Mas mamãe.../ Se novamente a pobre humanidade/ Mais uma vez em busca da verdade,/ Rufar os seus tambores sobre a Terra,/ Anunciando o sangue de outra guerra,/ Se mais um filho a Pátria te quiser,/ Sem lágrimas, mamãe, deixa-o ir./ Embora te destrua o coração,/ Ainda que te alquebre a agonia,/ Por favor, mamãe, pede a esse irmão,/ Pra que seja também de Infantaria!"

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Convidamos o Ver. Isaac Ainhorn para que proceda à entrega do Título ao homenageado. A Dra. Lenora fará a entrega da Medalha, em nome do Sr. Prefeito Municipal.

 

(Procede-se à entrega do Título e da Medalha.) (Palmas.)

 

O Sr. José Conrado de Souza está com a palavra.

 

O SR. JOSÉ CONRADO DE SOUZA: Sr. Presidente Airto Ferronato, demais membros da Mesa, Srs. Vereadores, meus companheiros da FEB, meus queridos amigos da Federação Israelita do Rio Grande do Sul, minhas Senhoras e meus Senhores, meu estimado amigo Ver. Isaac Ainhorn. Fiz um discurso porque temia a emoção no momento de falar, mas, antes de lê-lo, ainda gostaria de justificar, aqui, a ausência do meu filho, Juiz de Direito em Rio Grande, que por força de uma obrigação inadiável não pode estar presente, e também da minha filha Ana Maria e seu esposo, que estão nos Estados Unidos revendo os amigos que lá deixaram quando lá estiveram.

Vejo entre os meus queridos amigos presentes a figura muito querida do General Daniel, essa pessoa dinâmica que nos ajudou muito a transferir o Museu gaúcho da FEB para São Gabriel, museu que estava a perigo de ser levado do Rio Grande do Sul, e nós não admitiríamos isso. Vejo aqui o Presidente da Federação Israelita, o Presidente do meu Lions Clube Porto Alegre/Rio Branco; vejo aqui os meus companheiros do Lions, a minha querida enfermeira da FEB, Inácia Blaut, os meus companheiros que comigo lutaram nos campos de batalha da Itália. Vejo também o Cel. Milost, filho de ex-Combatente e Comandante do 3o Batalhão do Exército, e o querido amigo Cel. Irani Siqueira, esse declamador de primeira grandeza e um excelente cantor que tem nos alegrado com a sua presença na Associação Nacional dos Veteranos da FEB.

(Lê.)

"Hoje é um dia extremamente feliz para mim. Ao receber este honroso Título de Cidadão de Porto Alegre, vem-me à lembrança uma série de fatos que ajudaram a construir a pirâmide da minha vida nesta Cidade que amei desde os primeiros instantes em que aqui aportei em 1927, vindo de Santo Augusto.

Aqui, no Colégio dos Anjos, aprendi as primeiras letras. Aqui, banhei-me nas águas do estuário do nosso Guaíba e brinquei nos ‘playground’ dos ‘Itas’ ancorados no cais do porto. Cavalguei nas estátuas dos cachorros da Praça da Matriz e assisti as retretas no antigo, belíssimo e bucólico Auditório Araújo Vianna, tão insensatamente demolido. Tirei retrato nos ‘lambe-lambe’ da Praça XV. Fiz o ‘footing’ da Rua da Praia. Freqüentei as matinês do Cinema Imperial. Passeei nos inesquecíveis bondes da Cidade. Andei no trenzinho que nos levava à Pedra Redonda. Nas peraltices da puberdade ‘furei’ os portões do velho Prado. Palmilhei todas as ruas que conheci e amei, como Mário Quintana, as ruas que nunca andei. Brinquei nas praças com monumentos que contam histórias da Cidade. Acompanhei, embevecido, a construção do Viaduto Otávio Rocha. Participei da abertura do Centenário na Exposição Farroupilha no Parque da Redenção, em 1935.

Lá pelas tantas, daqui saí para integrar-me à Força Expedicionária Brasileira, que lutou na Itália, na Segunda Guerra Mundial, contra o nazi-fascismo, de triste memória, e trazer para o Brasil a bandeira da vitória, com meus companheiros febianos, muitos dos quais, juntos com outros amigos, me prestigiam nesta solenidade.

Aqui encontrei a minha querida companheira e com ela, ao longo destes últimos quarenta e seis anos, criamos a nossa família e formamos os nossos filhos. Aqui liderei, por condescendência dos meus companheiros febianos, a união e a expansão da Associação Nacional dos Veteranos da FEB - Regional Porto Alegre. Aqui recebi o honroso Título de Cidadão Comunidade 1987, da B’na Brith. Aqui recebi as Medalhas Marechal Mascarenhas de Moraes, da FEB, e as Medalhas do Pacificador e do Mérito Militar do Exército Brasileiro. Daqui dirigi a construção de mais de 350km de estradas federais no Estado. Aqui fui eleito Governador do Distrito L-B de Lions International, que ampliou meu círculo de amigos. Aqui mesmo, nesta casa da democracia, tenho a prova dessas amizades todas no projeto do atuante Ver. Isaac Ainhorn, subscrito pelos Vereadores Artur Zanella, Mário Fraga, Maria do Rosário, Luiz Negrinho, Dilamar Machado, Lauro Hagemann, João Dib e os ex-Vereadores Jair Soares e Divo do Canto e também do nobre Presidente Airto Ferronato, com a aprovação unânime dos demais edis.

Sr. Presidente, nestes meus três quartos de século, aqui, neste momento, sinto-me contemplado com a aura divina. Como Cidadão de Porto Alegre de fato, e agora de direito, neste instante, em minha mente, em minha retina e no meu coração, através do gesto carinhoso da egrégia Câmara dos Vereadores e da sanção do Prefeito Tarso Genro, cristaliza-se o meu amor pela Cidade. O seu verde exuberante, o seu pôr-do-sol estonteante e o seu povo dinâmico e acolhedor, representado pelos nobres Vereadores, fazem de mim, hoje, um cidadão muito feliz. Obrigado a todos."

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Citamos a presença no Plenário do Ver. Artur Zanella.

Senhoras e Senhores, eu peço licença para dizer neste momento que esta Sessão também trouxe para mim a presença do meu pai, pelo menos em memória, porque ele esteve servindo durante três anos, no tempo da Guerra, em Uruguaiana. E falar do Exército Brasileiro, da FEB, para o meu pai era e ainda continua sendo uma história que empolga bastante. Desde criança convivi com as histórias que meu pai contava, fatos que nos contava, como era aquele momento. Daí posso imaginar como bela e importante é a história de todos os senhores que tiveram essa oportunidade de participar com a FEB na Itália. Daí eu entendo por que homenagear um pracinha da FEB é reconhecer a bravura e a bondade do nosso povo brasileiro.

Em nome da Câmara de Porto Alegre, o nosso abraço ao nosso homenageado e parabéns a Porto Alegre por ter lhe conferido este título. Gostaria também de registrar que nós, enquanto Câmara Municipal de Porto Alegre, aprovamos uma Resolução, no ano passado, que criou o Conselho de Cidadãos Eméritos, e a Câmara, sem nenhuma dúvida - aliás, o Município de Porto Alegre -, tem dado exemplos ao País da participação da nossa sociedade no processo administrativo e político. Daí, então, nós temos hoje pontos importantes que avançam no Poder Executivo, mas a Câmara também tem esse tipo de participação importante. Houve a primeira reunião de instalação desse Conselho no mês passado e hoje, às 14h, eu tive a oportunidade de presidir a segunda reunião do Conselho de Cidadãos de Porto Alegre, que, pelo nosso Regimento Interno, funciona na primeira terça-feira de cada mês, e na reunião de hoje à tarde, bastante discutida, marcou-se uma reunião extraordinária, que será na terça-feira que vem, às 14h, onde será discutido o Regimento desse Conselho, que é da competência exclusiva dos nossos Cidadãos de Porto Alegre, que discutem soberanamente sobre a votação do Conselho.

Eu confesso que há uma discussão extremamente grande, até porque existem diversos candidatos a Coordenador do Conselho. Se existem diversos candidatos é porque esses cidadãos estão interessados e sabem da importância desse nosso organismo da Câmara para ser algo importante para Porto Alegre. O nosso convite ao senhor para participar conosco, já na próxima terça-feira.

Gostaria de parabenizá-lo, registrar e agradecer a presença de todos.  Declaramos encerrada esta Sessão.

 

(Encerra-se a Sessão às 18h05min.)

 

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